O olho que sorri

Meu pai tem um olho que sorri. E que o denuncia sempre que tenta me enrolar ou em momentos em que não é politicamente correto rir.
Mas esse olho é o gatilho pra diversas gargalhadas.
Uma das coisas que mais gosto na vida é ter frouxo de riso com ele.
Geralmente começa com ele tentando não rir de uma coisa qualquer e depois a gente já tá se acabando de rir um do outro.
Foi assim num casamento evangélico que fomos há anos atrás.
O casório rolando, o pastor berrando (quem já foi sabe como é) e quando eu olho pro lado tá o pai encolhidinho com o olho chorando de rir do pastor.
Me desestabilizou. No final até a noiva ria junto.
Outra vez foi num aniversário de 15 anos de uma amiga em que eu dancei valsa. Todas as meninas com a roupa igual valsando com os rapazes.
Tô eu lá dançando e quando olho pros convidados está o pai tentando disfarçar e se contorcendo de tanto rir.
Pronto, ferrou com minha concentração. Um vexame.
Numa outra vez, ele de DIETA, foi à rua pegar um documento.
Demorou pra voltar.
Demorou.
Demorou.
Demorou.
Aí chegou falando que o documento não estava pronto, que ele teve que esperar então foi fazer hora no supermercado Zona Sul.
E balbuciou entre dentes mal abrindo a boca:
– comi surhatlavi..
– Comeu o que pai?
Desviou o olhar para cima igual cachorro no erro.
– pzodimiita
– Fala direito, pai, não me enrola. Vc comeu o que?
Ele não se aguentou:
– PIZZA DE MARGHERITA!!!!!
Foi o que bastou pra um acesso de riso duplo da cara de pau do sujeito.
Lembrei dessas histórias no fim de semana após ouvir minha mãe reclamando que ele não toma remédio de gripe direito e ele “sério” fingindo que não tinha entendido.
Aí eu quis semear a discórdia entre o casal:
– Mãe, o olho dele tá rindo de vc!
– Quem? EEEEEUUUUU? Calúniaaa!
– Eu vou te matar, Hélio!!!!!!
E saiu dando almofadada nele.
É o nosso jeitinho meigo de mostrar que se ama.